quarta-feira, 5 de junho de 2013

Contos do Celso: O Chamado do Sol

Ela abre os olhos.

Vê um céu azul, sem nenhuma nuvem. um azul enlouquecedor, tenebroso, um sinal de que o sol será mais forte hoje. Pela posição devem ser umas 7 horas da manhã, já está com sede e fome, mas não há nenhum alimento próximo, a não ser alguns ratos do deserto, lagartos e cobras. Sua boca rachada pede por água e seu estômago grita de fome. Será necessário caçar e andar a procura de alguma fonte de água, pois seu cantil não durará até o fim do dia.
Suas pernas e cabeça doem, o estresse é imenso, sua coluna parece estar com mil agulhas, mas é preciso o esforço, senão sua morte é  certa.

-Mas já não é certa ? -ela diz 



São 9 horas da manhã, o sol não está a pino, mas com certeza é o sol mais forte que já enfrentou, seus raios refletem no chão de areia branco, um clarão tão forte que a obriga a andar praticamente de olhos fechados. Seu caminho ainda não está definido, resolveu andar na direção leste.

Mas qual a diferença? Nem sei onde estou- Devaneia

Meio dia. O inferno na terra, cada centímetro do seu corpo arde, dói, soa. Não resiste e cai no chão, quer desistir  da vida, do objetivo de sobreviver, de tudo.

Mas como desistir de tudo, se não tenho nada? - reclama

3 horas depois, ela vira seu corpo semi-morto para a esquerda, e ao fazer repara em uma mancha escura no horizonte, com uma forma de cogumelo, uma espécie de árvore. Apenas essa suposição já faz sua vontade de viver. Como se tivesse injetada uma dose de anfetamina em si, ela se levanta ela caminha em direção a sua ultima esperança, seu ultimo suspiro, seu ultimo desafio.


São exatamente 17:24, ela nota, 17:24 do dia de 06 de julho, o dia mais feliz da sua vida. O dia em que renasceu, o dia em que a briga entre a vida e a morte tiveram fim, o término do seu atual pesadelo.A árvore acabou se revelando em várias, que acabaram se revelando um oásis, com pessegueiros, macieiras, mangueiras, todas as suas frutas prediletas, todas suculentas e doces, ela se banqueteia nesse paraíso no meio do inferno. A água do oásis é fresca e cristalina, ela se banha, tirando todo o suor, sangue e sujeira do seu corpo. Ela se deita a sombra de uma árvore, empanturrada e feliz, como nunca esteve, talvez essa deva ser a alegria de ter um filho, se sente como uma criança, vendo seus velhos sonhos voltando a tona, a força de sua alma se regenerando. O sono chega e com ele uma vontade de fechar os olhos e descansar, pálpebras cansadas, ela se deixa levar pelos braços de Orfeu, só uma soneca...



17:25,

Com um piscar de olhos ela acorda.

E se vê subindo, e subindo, cada vez mais alto. Vê o mundo em cores desbotadas, como uma escuridão em que apenas há formas, e tudo é cinza, há apenas uma luz, uma luz muito forte, e essa luz a está puxando pra cima.e é incontrolável a vontade de se deixar levar por essa luz.

-Devo estar á uns 50 metros de altura.

Ela com curiosidade, olha para baixo, há um corpo lá. Um corpo extremamente magro no meio do nada... ela observa melhor afia a sua visão... é o seu corpo.

-Só posso estar sonhando- Ela diz

Não.

Essa é a realidade. O Sonho acabou quando ela desistiu.